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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Do Surf (texto de Tereza Freire)




Imagine que você é um surfista. Você chega na praia e vai em direção ao mar. Deita-se na prancha e rema até passar a arrebentação. Quando você fura a onda, não pensa em mais nada, a não ser a onda. Naquele momento, você está completamente presente, não há memórias, não há projetos. Apenas o agora!

Yoga é estar presente no momento presente. Se não ficamos atentos, vem uma onda e depois outra, e outras mais e se a atenção não for total, um caldo nos leva de volta ao começo da rebentação e temos que começar tudo de novo. Precisamos aproveitar ao máximo o tempo que temos para ficar na água, não temos tempo a perder na vida...

Todo esforço que fazemos, resulta em punya, mérito, que é acumulado quando lutamos com todas as forças para passar as ondas. Sentamos na prancha e aproveitamos a calmaria depois do esforço. Respiramos, relaxamos, contemplamos o mar e não pensamos em como seria se estivéssemos em outro lugar. Somos mar...

Então vem a onda e você se prepara. A chegada da onda é o foco da sua vida naquele momento. Você por acaso pensa no que deixou de fazer ano passado, mês passado, ontem? Você lembra das contas que tem para pagar? Do trabalho que vai ter que entregar? De todas as obrigações que a Visa insiste em te cobrar? Não. Você surfa!

E só... Vai ao sabor do vento, dança de acordo com a música, segue a corrente. A onda é a sua obra de arte! Você espera, constrói, sente e vai. Totalmente entregue, totalmente presente. E a cada onda, a mesma entrega, o mesmo preciosismo, a mesma vontade de acertar, de fazer melhor.

Yoga é perfeição na ação. Cada onda é diferente da outra, assim como você é diferente em relação a cada uma delas. Você não espera que uma onda seja melhor do que a outra. Assim como não esperamos que uma pessoa seja melhor do que a outra, um trabalho melhor do que outro, um amor maior do que outro.

Você recebe o mar do jeito que ele é a cada momento, com toda entrega e aceitação. Recebe a onda que chega e faz o melhor que pode para que seja a melhor onda que você já pegou. Você também não se apega a onda, querendo que ela seja sua para sempre, você aceita a impermanência, pois sabe que a onda vai passar e se transformar em mar. Você não espera que o mar corresponda as suas expectativas.

Você dá o seu melhor e não exige nada em troca. Cada onda é um novo desafio que vai te ensinar algo diferente. Mesmo aquelas assombrosas que você escolhe não pegar, te ensinam respeito e responsabilidade. E as que estouram no meio do caminho, não te frustram porque você aprende a ter paciência, a ser tolerante e, principalmente, a ter humildade para se relacionar com aquele tipo de onda.

Aquele tubo que o outro pegou antes de você, não lhe incomoda, porque você vibra com a realização do outro, pois se somos todos um, somos nós que estamos naquele tubo e o prazer do outro é nosso prazer também. Quando você perde uma onda boa porque estava distraído olhando o céu, não fica sofrendo pensando que esta poderia ter sido a onda da sua vida.

Você sabe que todas as ondas são as da sua vida porque tudo que nos acontece, é sagrado, sejam as ondas boas ou aquelas que quebram no meio do caminho. Entregar-se, aceitar a onda e surfar! Isto é Ishvara pranidhana, render-se diante da vida, entregar os frutos e confiar.

Você simplesmente segue surfando, porque este é seu dharma naquele momento. Seu dharma é agir! Você não fica parado na praia esperando a melhor onda para entrar no mar. Você vai para o mar! Porque sabe que a vida é um milagre e este momento é o melhor presente que recebemos de Deus. Por isso, se chama presente!

Namaste!

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